segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pá, vassoura e uma nova consciência cívica

Carla Castelo
Jornalista SIC


"O dia estava chuvoso. Era um daqueles sábados em que apetece prolongar o descanso da noite manhã dentro. Mas havia um motivo para milhares de pessoas saírem de casa, em folga, para irem trabalhar sem ganhar nada. Um projecto cívico que se propunha Limpar Portugal.


A ideia não foi original (veio da Estónia), mas assentou que nem uma luva a um país onde se continuavam a multiplicar lixeiras, amontoados de entulho e outros exemplos de desleixo e desrespeito pelo espaço público, como se aquilo que é de todos não interessasse a ninguém.

Cidadãos comuns, sem ligação a associações de defesa do ambiente ou a partidos políticos, os promotores da ideia começaram a espalhá-la pela Internet. A ideia de identificar lixeiras por todo o país, formar equipas de âmbito local, e depois fazer a limpeza num único dia, foi crescendo e ganhando adeptos.


O objectivo não era só limpar milhares de lugares cheios de lixo. O objectivo era que essa acção tivesse um carácter pedagógico para o futuro. Mobilizasse as pessoas para a defesa do espaço público, para que cada um pudesse zelar para que os locais então limpos não voltassem a ser transformados em lixeiras.

Primeiro aderiram outros cidadãos comuns, conscientes de que havia muito lixo para limpar nas bermas das estradas, nas matas, nas florestas, nas praias, de norte a sul do país. Depois juntaram-se entidades públicas: autarquias, ministério do ambiente, presidente da república.

No dia 20 de Março de 2010, cerca de 100 mil pessoas, incluindo milhares de crianças, participaram na acção e removeram 70 mil toneladas de lixo em cerca de 13 mil pontos previamente identificados de norte a sul.

É claro que nem todo o país ficou limpo (e seria interessante voltar agora aos locais que foram limpos a 20 de Março, para perceber se continuam sem lixo), mas a acção ficou certamente na memória de quem nela participou, e deixou-nos a todos com a impressão de que, mesmo num país com baixos níveis de participação cívica, é possível mobilizar os cidadãos para participarem em acções em prol do bem público.

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